Série de Entrevistas – Kerexu, da Aldeia Boa Vista

No Dia Nacional de Luta dos Povos Indígenas, 7 de fevereiro,  a IlhaMuseu dá continuidade à sua série de entrevistas com moradores do Litoral Norte de São Paulo.

Entre a multiplicidade de vozes que compõem a ecologia de saberes da região, destacamos a liderança guarani, Kerexu (ou Luiza da Silva Oliveira Pará), que conversou com a jornalista Paulina Chamorro, durante o Nhemongarai, o batismo dos Guarani Mbya, que acontece durante o período do ‹‹Tempo Novo›› Guarani, o que seria o Ano Novo dos Juruá (os não-indígenas).

Nesta conversa, Kerexu nos conta detalhes do Nhemongarai, um ritual primordial para a cultura Guarani. Fala também do seu processo para tornar-se uma liderança do povo Guarani Mbya e dos desafios que os povos indígenas brasileiros enfrentam, especialmente na luta contra o chamado Marco Temporal para  demarcação de terras indígenas, que continua em debate no Congresso Nacional, com a proposta de emenda à Constituição (PEC 48/2023) para flexibilização do direito à demarcação e sobre a exploração dos territórios indígenas.

O Marco defende a tese de que o direito territorial indígena só está garantido, se a presença ou litigância indígena sobre um território tiver existido até outubro de 1988, data da promulgação da Constituição.

Nhemongaraí

O Nhemongaraí é o batismo das crianças Guarani Mbya que ainda não completaram um ano de idade, que recebem o seu Nhe’e (espírito-nome, protetor da pessoa). O Nhemongaraí também se estende aos alimentos (ervas e grãos, em geral), como agradecimento às colheitas. O ritual acontece nas diversas aldeias indígenas Guarani Mbya espalhadas do Sul ao Sudeste brasileiro, sempre durante o Arapyau — o ‹‹tempo novo›› para os povos Guaranis, o tempo da expansão da luz da vida, do Sol.

Para os povos Guarani, a passagem do tempo é definida em dois tempos: o Ara Yma, o tempo velho, o tempo frio; e o Ara Pyau, o tempo novo, o tempo quente, cheio de luz, energia e transformações. No Litoral Norte, as celebrações do Ara Pyau acontecem em setembro, na Aldeia Rio Silveiras, em São Sebastião; e em janeiro na Aldeia Boa Vista. Isto se dá, porque o tempo novo Guarani refere-se ao período que vai de setembro a junho, quando o Sol aquece e faz acontecer a vida.